domingo, 21 de novembro de 2021

O comer e o poder

Da política ao ambiente familiar, refeições são momentos de troca

Por: Maria Eduarda Costa Mattos
Em: 18/062021

batata cozida, servida com outros acompanhamentos www.pexels.com
Nos tempos em que era possível reunir pessoas, eu gostava de oferecer jantares em casa. Quando por lá aparecia alguém que frequentava o noticiário, era comum que jornalistas me perguntassem sobre o cardápio. É um interesse legítimo. As pessoas querem saber o que comem e bebem políticos e empresários. Para uma anfitriã atenta, a comida ser
vida tem algo a dizer aos convivas e à situação que os colocou ao redor da mesma mesa. Lembrei dessas ocasiões ao ler sobre o menu degustado pelos principais líderes mundiais na recente cúpula do G7, na Grã-Bretanha. Tinha bucho de ovelha recheado com mousse de vísceras, cebola e farinha de aveia. Um brasileiro talvez torcesse o nariz para tanto exotismo, mas o haggis — o nome do prato — é uma receita tradicional escocesa, em geral servida em grandes festas e banquetes. Há sempre alguma simbologia no alimento que se serve. Buchadas são um clássico. Por aqui, a de bode é quase uma cerimônia de iniciação política para candidatos que querem demonstrar proximidade com o povo, algo tão essencial quanto o pastel de feira. No caso do G7, uma mensagem possível bem que poderia ser uma simpática saudação à diversidade cultural — sim, porque culinária é cultura.

A civilização evoluiu em torno da mesa. Na Antiguidade, as festas mundanas, onde mais se bebia do que se comia, eram chamadas de simpósios, que, aliás, seria uma tradução mais literal para o famoso O Banquete, de Platão. Somente bem mais tarde, na Idade Média, se consolidou o hábito de sentar à mesa para comer, transformando salas de jantar em locais privilegiados onde, entre uma garfada e outra, os poderosos fechavam negócios e selavam alianças. Cada detalhe conta. O respeito à etiqueta pode ser a diferença entre a guerra e a paz. A escolha dos pratos pode ofender ou bajular os convidados. Nos Estados Unidos dos anos 50, por exemplo, era uma honra ser convidado para comer churrasco de hambúrguer nos jardins da Casa Branca. Diz a lenda que a sofisticação só teria chegado à sede do governo americano com a primeira-dama Jacqueline Kennedy, que nos anos 60 levou a Washington o gosto adquirido em suas estadas na Europa.

Banquetes são também eventos que criam laços de sociabilidade. Lembro-me, a propósito, de um filme dos anos 80, A Festa de Babette. A protagonista foge da França revolucionária do século XIX e se refugia na casa de um pastor dinamarquês. Anos mais tarde, ao descobrir que ganhou na loteria, oferece uma ceia na casa da família que a acolheu. Pratos exuberantes são servidos a dezenas de convidados. A comida é tão boa que alimenta até o espírito dos presentes: inimigos fazem as pazes, antigos amantes abrem seu coração, mágoas são esquecidas. Ao final, descobrimos que Babette, que era chef de um conceituado restaurante em Paris, gastou todo o dinheiro do prêmio no banquete. Loucura? Não. Ela preferiu empregar a fortuna exercendo sua paixão. Da política ao ambiente familiar, refeições são momentos de troca. Essa, aliás, é uma das lições deixadas pelo mais famoso banquete da história, retratado na Bíblia: a mesa é local de partilha — de pão, ideias e afeto.

A Casa do Porco é o 17º melhor restaurante do mundo

Espaço subiu 22 posições no ranking criado pela revista 'Restaurant'

Por: Maria Eduarda Costa Mattos
Em: 06/10/21
Jefferson e Janaína Rueda
www.google.com.br

A Casa do Porco, na capital paulista, é o 17º melhor restaurante do mundo, de acordo com o "The World's 50 Best Restaurants 2021", ranking criado pela revista britânica "Restaurant", considerado o Oscar da gastronomia mundial. O restaurante, dos sócios Jefferson e Janaína Rueda, é o único brasileiro na lista. Em 2019, o espaço tinha ficado na 39º posição. O restaurante dinamarquês Noma ocupa a primeira posição, mesma colocação que esteve em 2010, 2011, 2012 e 2014. A cerimônia aconteceu na Antuérpia, Bélgica, nessa terça-feira.


Pratos do restaurante A Casa do Porco www.google.com.br

"Muito felizes e emocionada. A ficha ainda não caiu. Fico mais feliz ainda que o reconhecimento da Casa do Porco veio primeiro do Brasil, desde o primeiro dia tivemos público e apoio dos brasileiros. Um reconhecimento interno. Sempre fomos muito divulgados dentro do nosso país. Esse prêmio é para todos nós. A cozinha do nosso país está entre as coisas que temos de melhor. E que nos próximos anos possamos ter mais brasileiros na lista mundial também", diz Janaína.

Confira a lista completa do 50 Best:
1 - Noma em Copenhague, Dinamarca
2 - Geranium em Copenhague, Dinamarca
3 - Asador Etxebarri em Atxondo, Espanha
4 - Central em Lima, Peru
5 - Disfrutar em Barcelona, Espanha
6 - Frantzén em Estocolmo, Suécia
7 - Maido em Lima, Peru
8 - Odette em Singapura
9 - Pujol na Cidade do México, México
10 - The Chairman em Hong Kong, China
11 - Den em Tóquio, Japão
12 - Steirereck em Viena, Áustria
13 - Don Julio em Buenos Aires, Argentina
14 - Mugaritz em San Sebastian, Espanha
15 - Lido 84 em Gardone Riviera, Itália
16 - Elkano em Getaria, Espanha
17 - A Casa do Porco em São Paulo, Brasil
18 - Piazza Duomo em Alba, Itália
19 - Narisawa em Tóquio, Japão
20 - Diverxo em Madri, Espanha
21 - Hiša Franko em Kobarid, Eslovênia
22 - Cosme em Nova York, EUA
23 - Arpège em Paris, França
24 - Septime em Paris, França
25 - White Rabbit em Moscou, Ríssia
26 - Le Calandre em Rubano, Itália
27 - Quintonil na Cidade do México, México
28 - Benu em São Francisco, EUA
29 - Reale em Castel di Sangro, Itália
30 - Twins Garden em Moscou, Rússia
31 - Restaurant Tim Raue em Berlim, Alemanha
32 - The Clove Club em Londres, Reino Unido
33 - Lyle's em Londres, Reino Unido
34 - Burnt Ends em Singapura
35 - Ultraviolet by Paul Pairet em Xangai, China
36 - Hof Van Cleve em Kruishoutem, Bélgica
37 - SingleThread em Healdsburg, EUA
38 - Boragó em Santiago, Chile
39 - Florilège em Tóquio, Japão
40 - Sühring em Bangkok, Tailândia
41 - Alléno Paris au Pavillon Ledoyen em Paris, França
42 - Belcanto em Lisboa, Portugal
43 - Atomix em Nova York, EUA
44 - Le Bernardin em Nova York, EUA
45 - Nobelhart & Schmutzig em Berlim, Alemanha
46 - Leo em Bogotá, Colômbia
47 - Maaemo em Oslo, Noruega
48 - Atelier Crenn em São Francisco, EUA
49 - Azurmendi em Larrabetzu, Espanha
50 - Wolfgat em Paternoster, África do Sul

Janaína Rueda nasceu num cortiço no Brás

Pratos do restaurante A Casa do Porco www.google.com.br

Paulistana nascida num cortiço no Brás, Janaína precisou ser fera para, ainda menina, se virar na selva do centro paulistano. Adolescente, ganhava dinheiro como ambulante, vendendo iogurte batido com frutas e beirute recheado de salpicão de frango. Depois, fez de tudo um pouco, de hostess de balada a vendedora de bijuteria e corretora de terrenos no interior paulista (seu Fusca era o escritório).

Trabalhava com marketing de bebidas quando conheceu o chef Jefferson Rueda, com quem se casou. E não recolheu as garras: cercada por cozinheiros profissionais por todos os lados, não se deixou intimidar e apostou no próprio tempero ao abrir, em 2008, o Bar da Dona Onça, que passou a congestionar a calçada do icônico Edifício Copan, de Oscar Niemeyer, no Centro de São Paulo.

Sucesso de pratos como feijoada com tartar de banana e galinhada com gema curada fez mais do que garantir o lugar de Janaina entre os chefs paulistanos. O Bar da Dona Onça foi o primeiro passo para ela se tornar uma espécie de embaixadora da cidade e, depois, da gastronomia brasileira. Com o marido, construiu um pequeno império que se restringe a uma área de poucos quarteirões na região da República, mas tem repercussão dentro e fora do país. O casal tem ainda A Casa do Porco e o Hot Pork, de cachorro-quente, e a Sorveteria do Centro.


As 5 dicas de ouro do chef Elzio Callefi para fazer o churrasco perfeito

O churrasco perfeito não se resume apenas à qualidade do que vai ao fogo: bons cortes de carne e legumes selecionados também contribuem no resultado

Por Maria Eduarda Costa Mattos
Em: 11/09/2021 
carnes em preparo na churrasqueira
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Não é novidade que, para os brasileiros, o churrasco é mais do que uma simples refeição. Com o passar do tempo, novas maneiras e variedade de preparos foram surgindo, fazendo com que o churrasco fosse reconhecido como um grande momento de confraternização. São mudanças que representam a pluralidade da tradição, que segue conquistando admiradores independentemente do que é assado sobre o fogo. 

O churrasco perfeito não se resume apenas à qualidade do que vai ao fogo ou a uma boa churrasqueira. Bons cortes de carne ou legumes selecionados contribuem para o resultado final, mas só farão a diferença mesmo com a ajuda de bons utensílios e acessórios para complementar e facilitar as tarefas. “Seria como ter um maestro com excelentes músicos, mas sem instrumentos para tocar”, comenta Elzio Callefi, chef da Tramontina. O chef traz algumas dicas que podem ajudar na busca pela perfeição do churrasco. 

1- Cuidado com o desperdício e o movimento serrote na hora do corte

cozinheiro cortando a carne
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Um dos grandes segredos do churrasco é o corte da carne. Para isso, facas afiadas sempre ajudam, e muito, a evitar acidentes e desperdício, garantindo o corte preciso e agilidade na hora de servir. A faca tipo Butcher possui lâmina longa e afiada que facilita o corte de peças grandes ou pequenas e com isso evita o movimento serrote de vai e vem que muitas vezes estraga as fibras da carne. Além disso, possui sulcos na lâmina que facilitam o corte de carnes assadas, sem desmanchar ou grudar na lâmina.



2- Otimize o espaço ao fogo e garanta a diversidade no churrasco
cozinheiro na churrasqueira
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Praticidade é o que o churrasqueiro precisa. Cada vez mais a grelha faz diferença na hora de assar justamente por facilitar o preparo de qualquer assado, além de otimizar o espaço na churrasqueira. Modelos com abertura e fechamento lateral são ótimas opções: além de ser de fácil limpeza, podem ser remanejados na churrasqueira de forma segura e prática. Grelhas com duas opções de espaçamento também são ideais para evitar perdas desagradáveis na hora do churrasco. Isso porque a parte com espaçamento maior entre as barras, permite assar ou grelhar peças de carnes maiores, enquanto a lateral com espaços menores permite assar peças ou carnes menores como coração de frango, linguiça e legumes.

3 - A garra é o novo garfo trinchante

A garra é uma novidade que veio para ficar. Ela pode realizar a função do garfo trinchante no momento do corte levando precisão e maior contato com o alimento na hora de cortar o assado, além de ser um item ótimo para desfiar peças inteiras de carne assada de forma prática e segura. Outros utensílios que não podem faltar em seu churrasco são o pegador, sucesso garantido entre churrasqueiros que permite manusear a carne na churrasqueira de forma segura e prática, e o melhor de tudo, sem perfurar as peças a cada movimento. “Mas, lembre-se de não virar demais a carne para não perder o ponto perfeito”, complementa Elzio.

frango com pimenta salpicada
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4 - Crie sua assinatura de sabor no assado

Que fazer churrasco é arte para muita gente, já sabemos. O resultado pode ser uma obra prima e agradar a família toda se for bem feito. Uma dica importante é usar o pincel para garantir uma assinatura personalizada de sabor para seu churrasco. “Este utensílio, muitas vezes ignorado pelos churrasqueiros, ajuda muito a dar aquele toque pessoal, seja com um molho secreto ou usando o próprio suco da carne, com isso mantém a carne sempre hidratada e com um sabor diferenciado”, diz Elzio.

5 - Limpeza também faz parte do ritual
Acabou o fogo, acabou a comida, todos felizes e satisfeitos. Mas, o ritual não para por aí. A limpeza é parte essencial para garantir o próximo churrasco, com o mesmo capricho e sabor. Para fazer bonito depois do churrasco e manter suas grelhas ou espetos sempre limpos, uma escova de limpeza não pode faltar. Além de facilitar a limpeza, a escova retira todos os resíduos que podem deixar um sabor ou aroma queimado no próximo churrasco, além de conservar e aumentar a vida útil do produto.

Jantar às cegas: a experiência que desperta o paladar e os demais sentidos

Tendência que se originou na França e na Suíça ganha cada vez mais apreciadores no Brasil

Por: Maria Eduarda Costa Mattos
Em: 18/09/21

legenda: casal comendo de olhos vendados
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Comemos com os olhos, diz o milenar aforismo. A visão tem o poder de provocar atração ou repulsa, reprimindo os demais sentidos. Crianças consumiriam mais verduras se elas fossem multicoloridas, e menos hambúrgueres se não fossem processados industrialmente. Aversões se impõem sobre a comida principalmente porque a maioria pode ver o que está no prato antes de colocar na boca. É por isso que existem aqueles que acreditam que algumas experiências precisam ser vividas às escuras — entre elas, participar de jantares imersos nas trevas e também no silêncio.

O conceito de jantar às cegas teria surgido em pontos alternativos de Paris no fim do século passado, mas o primeiro restaurante a fincar raízes foi o Blindekuh, em Zurique, na Suíça. Inaugurado em 1999 por um clérigo cego que buscava promover a inclusão de deficientes visuais, o Blindekuh prosperou e inspirou versões similares. A rede mais conhecida hoje é a Dans Le Noir, presente em cinco países da Europa, na Nova Zelândia e no Egito. O conceito não fez muito sucesso quando chegou a Nova York, mas, no Brasil, vai conquistando adeptos.

Em São Paulo, a chef Mariana Pelozio faz dois jantares por mês. No momento da reserva, os interessados precisam informar se têm alergia ou restrição a algum alimento. Passada essa etapa, a aventura sensorial começa. Ao adentrar o restaurante Duas Terezas, do qual Mariana é proprietária, o cliente é vendado e lhe é servida uma sequência de pratos, harmonizados com vinho se ele desejar. A todos os presentes é pedido que evitem comentar sobre o que estão comendo a fim de não atrapalhar os outros. Segundo Mariana, quem participa relata reminiscências da infância e descobre sabores que foram perdidos no tempo. “No final, quando revelamos o cardápio ao cliente, ele percebe que errou o conteúdo de quase tudo que consumiu”, explica a chef

legenda: mulher sendo vendada www.pexels.com

No Rio de Janeiro, a italiana Silvia Di Capucci promove festins similares, os quais ela chama de Jantar dos Sentidos, que não ocorrem em lugar fixo e podem ser feitos até mesmo em casa, para onde ela leva a experiência. Silvia é uma estudiosa do tema e, assim como a colega de São Paulo, busca criar um ambiente acolhedor para que as pessoas se deem conta até do tilintar de talheres. “A visão define a comida. Sem ela, o cérebro precisa se recondicionar”, diz a chef. Conforme relatado, alguns clientes chegam a se emocionar, pois a jornada na escuridão parece reconectá-los ao mundo, por meio da audição, do tato, do aroma e, principalmente, do paladar.






O comer e o poder

Da política ao ambiente familiar, refeições são momentos de troca Por: Maria Eduarda Costa Mattos Em: 18/062021 batata cozida, servida com o...